Indústria de brinquedo traça meta para reduzir importação

Indústria de brinquedo traça meta para reduzir importaçãoSem pretensão de desbancar a China, mas com intenção de manter empregos, a indústria brasileira de brinquedos quer levar a participação dos importados a 30% em cinco anos.

Ainda que permaneça na dianteira do mercado de brinquedos, responsável por 70% da produção mundial, a China atravessa mudanças estruturais nas questões trabalhistas, com sindicalização e profissionalização dos funcionários, que de certa forma beneficiam a indústria brasileira.

O maior rigor nas exigências sobre as condições de trabalho tem obrigado a China a elevar salários e prover benefícios sociais aos seus funcionários. Esses ajustes resultam no aumento dos preços finais, melhorando a competitividade.

Além disso, pesquisa da International Council of Toy Industries (ICTI), apresentada durante a feira internacional Hong Kong Toys & Games Fair, mostra que o aumento do custo de matéria-prima, a desaceleração da economia mundial e a apreciação do iuane constituíram entraves às empresas chinesas no ano passado.

Mas contrariando a tendência mundial de dependência do país asiático, o Brasil tem reduzido a quantidade de brinquedos importados, cuja participação foi de 60% em 2012 e a expectativa é que neste ano fique em 50%.

A Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) prevê que em cinco anos a configuração será ainda mais favorável, com 70% de produção nacional e 30% de importados.

"Não me importo em perder para chinês. Não gosto de perder para americano. O Brasil é praticamente o único país a manter o DNA de fabricação de brinquedo, os demais importam. Não queremos comprar produto chinês de americano", diz Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, em visita a feira, que contou com mais de 1.900 expositores de 41 países.

O executivo enfatiza que países como Estados Unidos e Alemanha abandonaram a produção doméstica e hoje são compradores praticamente integrais.

Dados preliminares apontam para uma expansão de 14% da indústria de brinquedos brasileira em 2012, totalizando um faturamento de R$ 3,944 bilhões. Já as vendas para o consumidor, ou varejo, devem chegar perto de R$ 7,5 bilhões. Mundialmente, a indústria movimentou US$ 80 bilhões no ano passado.

A combinação de um câmbio doméstico mais desvalorizado, greve nos portos chineses e preço externo maior contribuiu para o desempenho doméstico. Além disso, as 523 fábricas de brinquedos instaladas no país produziram 1.659 lançamentos. Para 2013, o prognóstico é de 1.800 lançamentos, trazendo aproximadamente cinco novidades por dia.

Estratégia

Sem contar exclusivamente com as variáveis que beneficiaram a indústria local no ano passado, a estratégia da Abrinq neste ano estará focada em potencializar nossos pontos positivos, dentre os quais estão a criação do design e desenvolvimento de moldes.

"O governo brasileiro quer a indústria de brinquedo no país. Não gastaremos energia para fazer partes e peças, faremos aquilo em que somos bons", afirma Costa, destacando também que não é interesse a fabricação de partes eletrônicas.

A entidade trabalhará ainda o estreitamento da relação com os países do Mercosul, para que uma fatia da importação seja de nações do bloco; manterá discussão com o governo sobre as alíquotas que incidem no brinquedo brasileiro; buscará consenso sobre as regras de segurança internacionais de forma que não inviabilizem a fabricação doméstica; e permanecerá no controle na alfândega, para reduzir a sonegação de impostos.

E a questão fiscal ilustra bem o ambiente desafiador para a indústria de brinquedos, considerando que, segundo a entidade, 42% do preço de um brinquedo brasileiro é imposto, ao passo que na China esse peso é de cerca de 2%.

"A indústria brasileira tem infraestrutura melhor, mas perde na hora que coloca o produto no caminhão. Competir com os subsídios do governo chinês é difícil", resume Costa.

Mesmo com incentivos do governo e o trabalho da International Council of Toy Industries, que certifica as companhias e garante, dentre outras coisas, a erradicação do trabalho infantil nas fábricas de brinquedos chinesas, o cenário que se tem hoje nas fábricas do país asiático é de instalações precárias, nenhum equipamento de segurança individual e a extensa jornada de trabalho diário.


Expansão

O potencial de crescimento do mercado consumidor no Brasil é favorável ainda que considerada a redução de filhos por casais. A média de brinquedos comprados por ano no país é de sete por criança, enquanto no Japão esse número chega a 34.

Soma-se a isso o ambiente econômico, cujo aumento de renda combinado com a falta de hábito de poupar beneficia o consumo, conforme o presidente da Abrinq.

"Temos também uma criança ativa, que gosta de brincar com o brinquedo e não que o brinquedo brinque com ela", complementa. Tudo isso contrabalanceando com o costume do brasileiro de sempre buscar o menor preço em detrimento de qualidade e segurança.

Fonte: Brasil Econômico