Perfil muda e carro estrangeiro pode alcançar 18% do mercado brasileiro

A quantidade de veículos importados chegará a 18% do mercado brasileiro este ano. É como se os navios trouxessem para o país uma montadora inteira, do tamanho da General Motors, a terceira maior, que fabrica cerca de 600 mil veículos por ano. O volume de carros estrangeiros previsto para 2010 - 610 mil - demonstra que a indústria automobilística, um setor que há décadas se mobiliza em torno da autoproteção, começou a perder o controle da entrada do produto estrangeiro. E aquilo que antes lhe servia praticamente apenas para complementar as linhas, começou a representar uma ameaça de concorrência à produção local.

Com a abertura do mercado, na década de 90, e com os acordos de intercâmbio comercial com países como Argentina e México, a indústria automobilística começou a usar a importação para complementar a oferta local. A maior parte das fábricas instaladas no Brasil começou a se dedicar aos modelos menores e para as fábricas das mesmas montadoras localizadas nos países parceiros foram deslocadas as linhas de carros de médio porte.

Os carros de luxo são importados inclusive pelas próprias montadoras, notadamente de seus países de origem, como Japão e Europa. Os fabricantes nunca tiveram interesse em produzir os modelos mais sofisticados no Brasil porque, segundo argumentam, a baixa demanda não justifica o investimento. Desde 2005, no início do processo de valorização do real, a participação dos importados começou a aumentar ao mesmo tempo em que as exportações do setor começaram a cair. Há cinco anos, o volume de veículos estrangeiros representava 5% da venda anual.

Agora, no entanto, o aumento das importações vai além da estratégia de usar as fábricas nos países vizinhos para atender ao aumento da demanda brasileira, que chegará a 3,4 milhões de unidades este ano. Ele começou a ultrapassar o limite da compra do carro luxuoso que só é feito lá fora. Os fabricantes veteranos se incomodam com a ascensão de marcas coreanas, como Hyundai e Kia, e alguns veículos chegam a preços competitivos apesar dos 35% de Imposto de Importação de 35%, válida para países fora do Mercosul e México.

Já faz dois anos que a balança comercial de automóveis é negativa. Após o déficit de US$ 2,3 bilhões de 2009, até maio deste ano o saldo negativo somou US$ 1,2 bilhão, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Veículos (Abeiva). A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima importação de 612 mil veículos e exportação de 620 mil carros este ano.

O presidente da Anfavea, Cledorvino Bellini, diz que, com o forte aumento das importações, "sem dúvida alguns produtos deixam de ser fabricados no Brasil". Ele também cita o fato de que as exportações estão bem abaixo das quase 900 mil unidades de 2005. (Colaborou Sergio Lamucci)

Marli Olmos, de São Paulo
18/08/2010
Fonte: Valor Econômico