Brasil, China e Índia disputam espaço na África

Brasil Econômico - 13/09/2011

Crescimento anual de5%do Gabão e demanda para investimentos em infra-estrutura urbana faz país virar alvo de nações emergentes

Regiane de Oliveira - Com política considerada estável para um país da África e com taxa de crescimento de 5% ao ano, o Gabão vem se tornando uma alternativa de investimentos no continente africano.

E não à toa também virou campo de disputa—incentivado pelo governo local — de empresas estrangeiras, incluindo brasileiras.
Até 2012, o plano do governo é investir, em parceria com empresas privadas, US$ 16 bilhões em projetos de transporte, educação, energia e habitação — setores que ficaram 40 anos esquecidos no país.
Prova disso é que as ruas de Libreville são uma amostra do descaso de décadas com a infra-estrutura urbana.
A capital concentra 60% do 1,5 milhão de habitantes do Gabão e não há circulação regular de ônibus.
O que existe é um sistema de táxi, com cobrança aleatória, e pequenas vans, que garantem o transporte da população.
As moradias, em sua maioria de alvenaria sem acabamento, enfeiam a paisagem urbana, que, por outro lado, é contornada por belas praias.
Na beira de grandes avenidas, todas sem calçamento, e nas rodovias, ainda são comuns casas de madeira, a maioria erguidas por imigrantes ilegais de países vizinhos, atraídos pelas promessas de expansão.
Ruas de terra são parte da paisagem.
E o mesmo vale para o comércio informal.
É fato que o Gabão tem uma das melhores taxas de alfabetização da África, 84%, segundo dados oficiais.
Porém, até então, nenhum esforço conseguiu superar asmarcas da falta de industrialização, que se reflete na taxa de desemprego de 20%, dos quais 30% são jovens.
Todos estes dados são conhecidos pelo governo, que lançou um plano de ação agressivo para transformar esta realidade no prazo de cinco anos.
E para isto, conta com a entrada de empresas estrangeiras.
É da Shanghai Constrution, por exemplo, o Estádio da Amizade, que está em fase final de construção para receber a Copa das Nações Africanas de 2012.
A arena de 40 mil lugares começou a ser levantada em janeiro de 2010.
E contou com força de trabalhadores chineses e alguns gabonenses, para ficar pronta em novembro deste ano.
Foram investidos cerca de US$ 150 milhões no projeto.
E a presença estrangeira não para por aí.O projeto de urbanização de Libreville, que prevê a construção de um novo bairro ao redor do Estádio da Amizade, é da americana Bechtel.
O novo hospital oncológico será gerido pela norueguesa Vamed.
A usina de eletricidade movida a gás natural é da israelense Telemania e a construção de estradas, da indiana Abhijeet.
E o Brasil não fica de fora nessa disputa por espaço, apesar de enfrentar concorrentes de peso, especialmente chineses e indianos.
Um exemplo está na exploração de petróleo, setor no qual a Petrobras disputa espaço com outra estatal, a Oil Índia, que opera uma reserva onshore no país, e considera a compra de ativos avaliados em US$ 1,5 bilhão nas bacias de Maurel & Prom’s, segundo informações da imprensa local.
E um filão foi aberto nesse setor já que a estatal chinesa Sinopec vem passando por dificuldades — terá degastar ao menos US$ 3 milhões por conta de vazamento de óleo bruto que ocorreu em julho, em área cercada pela floresta equatorial do país.
A Vale também disputa espaço com os chineses (leia mais ao lado).
Os setores econômicos estão sendo loteados pelo governo, financiado por recursos próprios e empréstimos de bancos internacionais e, em sua maioria, como produto de parcerias público privadas.
O melhor exemplo é a abertura da Zona Especial de Comércio de Nkok, uma joint venture entre a indiana Olam (60%), que também quer controlar a produção e alimentos no país, com o governo (40%).
“Estamos tentando reverter a diáspora e trazer para casa engenheiros gaboneses que ajudem a atender a demanda do país na implementação de projetos”, afirmou Henri Ohayon, diretor geral da Agência Nacional de Grandes Projetos (ANGT, na sigla em francês) ao BRASIL ECONÔMICO.
* A jornalista viajou a convite da Olam e do governo do Gabão

Vale e Petrobrás Mineradora brasileira planeja investir US$3bilhões

“A Vale está voltando.” Foi assim, em tom de comemoração, que o ministro de Minas e Energia do Gabão, Alexandre Barro Chambrier, informou que a maior produtora de minério de ferro do Brasil deve retomar seus negócios no país africano.
A mineradora suspendeu seus trabalhos no país há cinco anos, quando a Companhia Nacional de Maquinários e Exportação e Importação da China (CMEC) ganhou de forma arbitrária — acordos políticos teriam tido mais peso na decisão do que de fato questões técnicas e de preço— uma licitação para controlar Belinga, uma reserva de ferro praticamente inexplorada, localizada há 500 quilômetros da capital Libreville, em meio a floresta equatorial.
A Vale não comenta seus negócios no país, mas a expectativa de sua chegada é grande, uma vez que a exploração da reserva de Belinda, com seu potencial de mais de 30 milhões de toneladas anuais de minério de ferro, representa investimentos da ordem de US$ 3 bilhões em infra-estrutura e exploração.
O valor é quase o dobro do que a empresa gasta hoje em projetos localizados em Moçambique, Guiné e Zâmbia.
A expectativa era que a chinesa CMEC iniciasse seus trabalhos neste ano, mas nada saiu do papel até agora.
O principal problema seriam os estudos ambientais entregues pela empresa, que foram contestados por técnicos do governo e que estão em revisão.
O atraso faz com que o governo reveja o que foi iniciado no mandato anterior, do presidente Omar Bongo Ondimba, pai do atual presidente e que ficou no poder por 42 anos.
Brasil x China

A volta da Vale mostra uma virada no jogo Brasil versus China por espaço no continente africano.
E agora, com uma nova aliada: a Petrobras, que segundo Chambrier está a um passo de iniciar sua operação no Gabão.
“Estamos terminando as negociações para a parceria com a Petrobras na exploração de petróleo em águas profundas no Gabão”, disse o ministro ao BRASIL ECONÔMICO.
O caminho da Petrobras está bem sedimentado.
A estatal brasileira adquiriu emjunho passado 50% de dois blocos de exploração offshore, Ntsina Marin e Mbeli Marin, da empresa inglesa Ophir Energy.
Ambos estão localizados na bacia costeira do Gabão, que possui muitas similaridades com a formação da costa brasileira, segundo pesquisas.
O acordo, que ainda não foi formalmente autorizado pelo governo do país, compreende a exploração de uma área de 6.683 quilômetros quadrados, em profundidade de até 2.40 metros e obrigação de executar um programa de varredura sísmica 3D em uma área de 2.000 quilômetros quadrados, até março de 2012.
Chambrier afirma que a exploração de petróleo no pré-sal é, juntamente com a mineração e a transformação da madeira, as maiores riquezas do país, que, no entanto, não temtecnologia, estrutura e pessoal capacitado para explorar nenhuma delas.
O Gabão importa praticamente tudo o que consome, de alimentos a serviços.
Mas está em processo de mudança.
O atual governo do presidente Ali Bongo Ondiga, no poder há três anos, vem facilitando a entrada de companhias estrangeiras.
Mas com uma condição: a transferência de tecnologia e a capacitação de profissionais gabonenses para o mesmo trabalho que os estrangeiros irão realizar.
“O Gabão é um país aberto para todos os parceiros, europeus, americanos, asiáticos.”, diz.
Resta saber que tipo de tecnologia a Vale e a Petrobras estão dispostas a ceder.
EX-COLÔNIA

Presença de empresas Francesas, como o Casino, é marcante O francês Casino, sócio da rede Pão de Açúcar no Brasil, tem lojas recheadas de produtos de marca própria, todos importados da França.
A presença francesa, aliás, é marcante e vai da base militar que ainda mantém na área central de Libreville desde os anos 1960, quando o Gabão se tornou independente, aos canais televisão e no idioma.

AS BRASILEIRAS E AS CONCORRENTES ASIÁTICAS

Vale e Petrobrás

A volta da Vale ao Gabão mostra uma virada no jogo Brasil versus China por espaço no continente africano.
E agora, com uma nova aliada: a Petrobras, que está a um passo de iniciar sua operação no país, depois de ter arrematado, em junho, 50% de dois blocos de exploração offshore — Ntsina Marin e Mbeli Marin — da empresa inglesa Ophir Energy, localizados na bacia costeira.


A chinesa CMEC

A Vale suspendeu seus trabalhos no Gabão há cinco anos, quando a chinesa CMEC conseguiu de forma arbitrária — acordos políticos teriam tido mais peso na decisão do que questões técnicas e de preço — uma licitação para controlar Belinga, uma reserva de ferro praticamente inexplorada, localizada há 500 quilômetros da capital Libreville, em meio a floresta equatorial.

Oil Índia e Sinopec

A principal concorrente no Gabão é outra estatal, a Oil Índia, que já opera uma reserva e estuda comprar US$ 1,5 bilhão em ativos nas bacias de Maurel & Prom’.
Outra concorrente é a estatal chinesa Sinopec, que explora petróleo no país, mas que passa por dificuldades: vai gastar US$ 3 milhões após vazamento de óleo bruto em área cercada pela floresta equatorial, em junho.

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