Dólar perde viés de baixa e vale R$ 1,65

Por dentro do mercado
Autor(es): Eduardo Campos
Valor Econômico - 06/09/2011

O mercado de câmbio vai configurando "cara nova" e a linha de R$ 1,65, que não era vista desde o fim março foi retomada na segunda-feira.

"O mercado de câmbio perdeu a tendência de baixa", diz o diretor de tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer.

Tal observação do tesoureiro parte de análise técnica que avalia as médias móveis de 22 dias úteis e 55 dias úteis. É uma avaliação bem simples, reconhece Knauer, mas o dólar tem mostrado boa aderência a ela.

Nos juros, taxa real abaixo dos 5% é a menor em dois anos

O que ainda não dá para afirmar, diz o especialista, é que o viés, agora, seria incontestavelmente de alta.

Observando a volatilidade do preço e os volumes negociados, o dólar ainda não teria rumo definido.

O fato é que a equação para o câmbio está cada vez mais complexa. E a última variável modificada, a queda de meio ponto percentual na taxa Selic, colocou todo mundo a fazer e refazer contas.

De acordo com Knauer, partindo da premissa de que serão feitos mais dois cortes de meio ponto percentual na Selic nos encontros de outubro e novembro do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado de arbitragem de taxa de juros não "morre", ou seja, o juro de 10% ao ano continua bem atrativo.

Acontece que não se pode descartar uma redução de juros mais rápida, caso o ambiente externo mostre piora adicional. Há boa movimentação com opções em juros futuros para duas reduções de 1 ponto percentual na Selic.

Com isso, além dessa possibilidade de queda mais acentuada do juro básico, a compra de dólar poderia tomar vulto em função de uma disparada na aversão ao risco.

Por mais que os EUA enfrentem graves dificuldades, o dólar ainda é reserva de liquidez em momentos de incerteza.

Outra variável a ser considerada é o preço das commodities. Sabe-se que, quanto mais caras as matérias-primas, mais forte o real, que ganha força via termos de troca (o que o país exporta vale mais e, assim, os mesmos volumes exportados geram maior ingresso de dólar). O inverso dessa relação também é válido.

No entanto, essa trajetória de matérias-primas também depende do que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, pode fazer para estimular a atividade nos EUA.

Mais injeção de liquidez pode dar fôlego às matérias-primas, mesmo em um ambiente de fraco crescimento mundial.

Tem de se considerar, também, que um novo plano estímulo pelo Fed resulta em instantâneo aumento na oferta de dólares no mundo. E tudo o que é muito ofertado, cai de preço.

Entram, também, na equação as medidas já tomadas pelo governo brasileiro para conter a valorização do real, bem como as ameaças de que ainda mais pode ser feito se o dólar teimar em perder força.

Segundo Knauer, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre o aumento de posição vendida líquida em derivativos machucou o especulador. E o investidor que vinha arbitrando juros foi tirado da zona de conforto por esse viés cadente para a taxa Selic.

Olhando as posições na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), depois de recordes históricos registrados em julho, os estoques comprados (pró-dólar) e vendidos (pró-real) foram murchando em agosto. E neste começo de mês estão entre os menores do ano.

O estrangeiro tem US$ 14,366 bilhões vendidos, sendo US$ 340 milhões em dólar futuro e US$ 14,025 bilhões em cupom cambial (DDI - juro em dólar).

Os bancos mostram estoque comprado de US$ 6,605 bilhões, exclusivamente em cupom cambial (US$ 7,599), pois passaram a ter posição vendida em dólar futuro de US$ 994 milhões.

Para dar um parâmetro, a posição vendida do estrangeiro já passou de US$ 24,6 bilhões, enquanto o estoque comprado dos bancos já esteve em US$ 19,6 bilhões.

Ontem, o dólar comercial marcou o quarto dia seguido de alta ao avançar 0,85%, a R$ 1,650.

Nesse período, o preço da moeda americana avançou 3,84%. O volume negociado, no entanto, não foi dos maiores, reflexo do feriado nos Estados Unidos. O giro estimado no interbancário somou pouco mais de US$ 1 bilhão, 50% do observado normalmente.

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No mercado futuro, o contrato para outubro chegou a R$ 1,6715, alta de 1,33%. Perdeu fôlego no decorrer da tarde, mas, ainda assim, marcava alta de 0,30%, a R$ 1,6545, antes do ajuste final de posições.

Olhando o mercado de juros, a taxa real se aproxima das mínimas históricas.

Tirando a inflação da conta, o custo do dinheiro está em 4,97%, menor em dois anos. A mínima da década é 4,62%, observada em julho de 2009.

Isso reflete tanto a queda nas taxas de mercado quanto a piora nas expectativas de inflação.

Eduardo Campos é repórter

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