Delegação dos EUA tenta evitar retaliação

Uma delegação do governo dos Estados Unidos, chefiada pela representante comercial adjunta, embaixadora Miriam Sapiro, estará amanhã em Brasília para tentar evitar a retaliação de US$ 850 milhões que o Brasil planeja impor sobre produtos americanos. A chegada da delegação americana, a quatro dias da data definida para a entrada em vigor das sanções, alimenta no setor privado a expectativa de que enfim a administração Barack Obama aparecerá com algum tipo de compensação para o Brasil, mas o ceticismo persiste em áreas do governo.

Dois congressistas americanos, Jeff Flake (republicano do Arizona) e Ron Kind (democrata de Wisconsin) enviaram uma carta a membros influentes do Congresso, pedindo apoio para reforma imediata nos programas de subsídios agrícolas americanos a fim de evitar a retaliação brasileira contra exportações americanas por causa do não cumprimento, por Washington, de decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) para acabar com as subvenções ilegais.

"Por causa da incapacidade do Congresso de resolver as questões, diante do intenso lobby da indústria do algodão e de outros grupos agrícolas, uma grande variedade de negócios americanos enfrentará altas sanções num momento em que eles não podem suportar isso", dizem os dois deputados. Um exemplo é o trigo americano, que será submetido a tarifa três vezes maior, de 10% para 30%, se a sanção for aplicada.

Miriam Sapiro, a número dois no USTR, agência de representação comercial americana, tem sido a pessoa da administração Obama que mais tem se ocupado do contencioso do algodão com o Brasil. Ela está consciente de que chegar no Brasil a quatro dias do prazo para a retaliação exige algo concreto na mesa de negociação.

As discussões no setor privado têm apontado para a possibilidade de um fundo com recursos americanos para o algodão, Embrapa e agricultura. Mas ninguém tem ideia precisa do formato do fundo, se é que será criado. Ao contrário do setor privado, funcionários americanos nunca falaram abertamente sobre a possibilidade com os negociadores do Itamaraty.

O governo brasileiro acenou também com a ideia de receber compensação através da redução de barreiras sanitárias, menor taxa sobre o etanol, entre outras alternativas. Mas o ceticismo persiste em boa parte dos que acompanham o contencioso do algodão. Duvidam que Washington tenha "bala na agulha", ou seja, concessão importante a fazer amanhã.. E que pode ocorrer "o pior cenário", de os americanos fazerem algum movimento, modesto, "para aparecer bem na foto", e o Brasil ter que recusá-lo por ser insuficiente.

A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) tem insistido que um acordo bilateral, para evitar a sanção, precisa incluir um compromisso da Casa Branca de quando os subsídios ilegais serão retirados.

O setor privado americano fez uma articulação em Washington para mostrar que o problema está na agricultura e algo precisa ser resolvido por aí. Nesse cenário, Miriam traz na delegação técnicos do Ministério da Agricultura, sinalizando que a discussão envolverá também como Washington pretende implementar a decisão da OMC para pôr fim aos subsídios ilegais aos cotonicultores.

Um dos membros da delegação é James Miller, especialista de programas que já foram condenados na briga com o Brasil na OMC. O embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, também estará em Brasília participando da negociação.

Assis Moreira, de Genebra
31/03/2010
Fonte: Valor Econômico