BC refaz contas de aplicações do exterior

Autor(es): Patrícia Duarte
O Globo - 26/03/2011

Nova previsão reduz em 65% investimentos em ações e renda fixa este ano

Ao mesmo tempo em que espera mais investimentos estrangeiros produtivos no Brasil este ano, elevando as projeções de US$45 bilhões para a cifra recorde de US$55 bilhões, o Banco Central (BC) reduziu sensivelmente sua previsão de ingresso de aplicações externas nos mercados de ações e de renda fixa em 2011 - apenas US$15 bilhões, quase 65% menos que o cálculo anterior, de US$40 bilhões. Com isso, a margem para o Brasil financiar o rombo em sua conta corrente - formada pelas operações feitas pelo país com o exterior, como balança comercial e viagens internacionais - está se estreitando.

Nos últimos anos, os déficits correntes têm sido compensados com folga pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED) e em portfólio, que formam a conta financeira do balanço de pagamentos - deverão ser US$70 bilhões em 2011, pelas novas projeções. Já as transações correntes deverão ter saldo negativo de US$60 bilhões, US$4 bilhões a menos que a estimativa anterior, informou ontem o BC. Em fevereiro, o déficit foi de US$3,391 bilhões, acumulando no primeiro bimestre perdas recordes de US$8,800 bilhões.

- Por enquanto, isso não é um problema para o país, pois ainda acreditamos que o rombo em transações correntes é financiável. Isso ocorre porque o Brasil está crescendo, aumentando a demanda por produtos e serviços, o que leva a importações maiores - disse o economista-chefe da Austing Rating, Alex Agostini.

- As condições de financiamento das transações correntes continuam extremamente favoráveis - defendeu o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.

Segundo ele, as contas sobre o IED estão sendo puxadas sobretudo pelos setores de mineração, veículos e comércio. Em fevereiro, o IED ficou em US$7,727 bilhões, o melhor resultado para esse mês desde o início da série histórica do BC, em 1947.

Em março, até ontem, os ingressos de IED chegaram a US$4,4 bilhões. A conta deve fechar o mês em US$4,8 bilhões. A robustez vista no setor produtivo, porém, não se repete no mercado financeiro, com as projeções do BC cada vez mais tímidas. Segundo Maciel, essa desaceleração deve-se à alíquota maior do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado em investimentos de renda fixa - definida em 6% em outubro de 2010. Ele disse que haverá menos interesse nas ações de empresas brasileiras:

- Já estamos vendo isso.

Os números do BC, no entanto, mostram que os investimentos estrangeiros em renda fixa se recuperaram em fevereiro. Em janeiro, houve saídas líquidas de US$470 milhões, número que caiu para US$54 milhões no mês passado. Em março, até ontem, já havia entradas líquidas de US$13 milhões.

Para o chefe-adjunto do BC, isso não tem relação com os aumentos da Selic, a taxa básica de juros, hoje em 11,75% ao ano, a maior do mundo.

- O fluxo de renda fixa não tem refletido a Selic - garantiu.

Os déficits em conta corrente têm sido puxados pela conta de serviços, destacando-se os gastos líquidos com viagens internacionais. Em fevereiro, eles somaram US$761 milhões, acumulando no ano US$1,907 bilhão. Em março, segundo o BC, esses gastos já somavam US$523 milhões. Com o dólar barato e o aumento de renda, a população brasileira tem viajado cada vez mais para o exterior.

Dólar deve continuar enfraquecido frente ao real

Com uma atuação mais fraca da balança comercial, o fluxo cambial - entrada e saída de moeda estrangeira do país - começou esta semana com saldo positivo de apenas US$82 milhões entre segunda e quarta-feira, informou ontem o BC. No mês, no entanto, o superávit está em US$11,810 bilhões, mostrando que o país continua atraindo muitos dólares e, portanto, a moeda americana deve continuar enfraquecida frente ao real, longe do patamar de R$1,70.

Esta semana, a conta comercial voltou a ficar no vermelho, com déficit de US$1,081 bilhão, mas ainda acumula no mês, até quarta-feira, um superávit de US$2,111 bilhões. As exportações, no período, ficaram em US$13,963 bilhões, e as importações, em US$11,852 bilhões.

Já a conta financeira -- pela qual passam os investimentos estrangeiros diretos e em portfólio - apresentou saldo positivo de US$1,163 bilhão nos três primeiros dias desta semana, acumulando no mês US$9,699 bilhões. As compras somaram US$27,121 bilhões, e as vendas, US$17,422 bilhões.

Esta semana, o BC atuou pouco, elevando as reservas internacionais em US$138 milhões entre segunda e quarta-feira. No total, no mês, o banco fez intervenções de US$7,801 bilhões por meio de leilões de câmbio à vista e a termo (com datas de liquidação diferenciadas).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário, muito obrigado pela sua visita!