Reconhecimento da China não está na pauta da visita

Autor(es): Lisandra Paraguassu
O Estado de S. Paulo - 29/03/2011

Presidente Dilma Rousseff não vai discutir o reconhecimento da China como economia de mercado na viagem que fará ao país em abril

Às vésperas da primeira visita da presidente Dilma Rousseff à China, as barreiras comerciais, reclamações mútuas e problemas entre os países ressurgem na pauta diplomática. Um dos pontos mais difíceis dessa relação, herança do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, já tem uma resposta brasileira - e não é a esperada pelos chineses. O Brasil, na viagem da presidente, de 11 a 15 de abril, não vai reconhecer o país como economia de mercado.

A promessa, feita em 2004 por Lula na primeira visita oficial do presidente chinês, Hu Jin Tao, ao Brasil, não está nem na pauta brasileira da viagem de Dilma nem na agenda imediata do governo. "Isso é um problema para o governo brasileiro, mas ninguém quer mexer agora. Não há nenhum clima no País hoje para levar isso adiante", disse ao Estado um diplomata.

O Brasil foi o único país a falar no reconhecimento da China como economia de mercado até hoje, uma medida que irritou empresários de todas as áreas no País. No entanto, começou a morrer logo em seguida. O próprio ex-chanceler Celso Amorim, então patrocinador da medida, se disse "decepcionado" com os poucos avanços que o Brasil obteve em troca da declaração. A decisão de não levar adiante a regulamentação, no entanto, foi tomada pelo Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio.

Inovação. Não fazer o reconhecimento esperado pela China, no entanto, não resolve a maior parte dos problemas que o País tem na sua relação comercial. Especialmente porque a maior parte deles está na conta do Brasil. Burocracia excessiva para exportações, carga tributária complicada e dificuldades com infraestrutura tornam difícil a competitividade do Brasil no mercado chinês. Mais que isso, a falta de tecnologia e inovação dos produtos brasileiros, comparado com o que se produz na China, torna quase impossível hoje um comércio que vá muito além das commodities.

"Nós não temos hoje o que vender para eles", afirma um diplomata. "Claramente é um problema nosso. Outros países estão fazendo grandes negócios, nós também temos de fazer." A pauta brasileira de exportações para a China alcançou US$ 30,8 bilhões em 2010 e o País mantém um superávit de mais de US$ 5 bilhões, mas apenas baseado em produtos primários.

A principal exportação é de minério de ferro, seguido por soja e óleos brutos de petróleo. Peças de maquinário para indústria e partes para aviões e helicópteros são os produtos com maior valor agregado vendidos pelo Brasil.

Do outro lado, as principais importações do Brasil são partes para aparelhos de televisão e telefonia e telas de cristal líquido para tevês e computadores. A análise do Itamaraty é que, apesar de hoje as commodities estarem valendo mais no mercado internacional do que grande parte dos produtos industrializados, não se sabe até onde isso vai.

Na sua recente viagem à China, o chanceler Antonio de Aguiar Patriota falou ao governo chinês do interesse brasileiro em entrar no mercado local. Ouviu de um dos ministros que o Brasil precisaria investir em inovação, porque hoje há dificuldade em encontrar aqui produtos além das commodities.

Mercado interno. A viagem da presidente Dilma à China é avaliada como um dos passos mais importantes na sua política externa, além da visita do presidente americano Barack Obama e do sinal dado pela ida à Argentina em janeiro, na sua primeira saída do País. Um dos pontos da agenda é a estruturação de um seminário sobre inovação para que o Brasil possa se beneficiar mais da relação com os chineses.

No entanto, o País terá de passar por cima de outro problema: a dificuldade que os empresários brasileiros tem em ver a China como um mercado interessante. As dificuldades de língua, legislação e a distância não entusiasmam empresas que têm no próprio Brasil um enorme mercado interno. Exigir a criação de barreiras comerciais, analisam fontes do governo, é mais simples e, até hoje, mais eficiente. Ainda assim, o Brasil vai levar cerca de 300 empresários nessa viagem. A intenção é que, dessa vez, os empresários brasileiros consigam encontrar mais oportunidades no mercado chinês.

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