Rio, um porto para o futuro

Autor(es): Mario Garnero
O Estado de S. Paulo - 30/03/2011

Às vezes um projeto econômico e urbano captura a imaginação e as atenções de todo um país - e do mundo. Assim foi com Canary Wharf, em Londres, ou com Puerto Madero, em Buenos Aires. Ou ainda com as belas Ramblas e o Porto Olímpico de Barcelona. Este é bem o caso do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.

Desejada desde fins dos anos 70 e elaborada em projetos da prefeitura desde 2000, a revitalização da zona portuária do Rio já está saindo do papel. Ponto fundamental para dar sentido concreto a esse projeto de dimensão internacional para o Brasil foi o acordo - e a harmonia - entre o poder municipal e os governos federal e estadual.

Com a permissão para construir em terrenos que pertencem em 62% à União, promove-se um verdadeiro renascimento da cidade a partir de sua base histórica, em bairros como Gamboa, Santo Cristo e Caju, além de São Cristóvão. Ao sobrevoar toda a área se tem a dimensão do desafio. No total, o Porto Maravilha prevê a utilização de 489 mil m2 com potencial de construção - uma área total de aproximadamente 5 milhões de m2. Isso equivale a 2 vezes Canary Wharf ou 10 vezes Puerto Madero.

O Rio está aprendendo com outras cidades. Adapta experiências de sucesso e evita erros cometidos em Baltimore, Barcelona, Buenos Aires, Hong Kong, Cidade do Cabo e Roterdã.

As obras públicas são feitas com um claro cronograma de implantação de infraestrutura: reconverte imóveis e engloba empreendimentos residenciais, comerciais, culturais e de entretenimento. Aquários, museus, parques, ciclovias, tudo na moldura legal - e moderna - de uma operação urbana consorciada e potencializada por Parcerias Público-Privadas.

O projeto dá uma solução ao Rio. Em razão da geografia que comprime a cidade entre a montanha e o litoral, não há grande margem para a extensão do anel urbano. As exceções são a Barra da Tijuca, a oeste, e o antigo centro da cidade a partir do porto.

O Rio acertou na criação da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp). É essencial para o sucesso do Porto Maravilha atrair moradores para a zona portuária, levando sua população dos atuais 22 mil para 100 mil habitantes. Para tanto, é fundamental o investimento em saneamento, dragagem e transporte. A experiência internacional mostra que projetos urbanísticos não recuperam uma área só com empresas, sem estimular a habitação. No limite, bairros não florescem sem que pessoas vivam neles. Todo reurbanismo mundo afora se orientou por moradias. Centros comerciais sem gente morando ficam vazios à noite e nos fins de semana. Além disso, a habitação é economicamente mais vantajosa, porque estimula o comércio de "vizinhança": farmácias, mercados, restaurantes, bares e padarias. A transformação em ponto de atração residencial, econômica e cultural de uma área há pouco esvaziada pela atividade produtiva será facilitada com o fim do Viaduto da Perimetral, além da abertura ao público da orla junto ao Cais do Porto.

Parte importante do calendário de moda e eventos da cidade, como a Rio Fashion Week, já ocorre nos armazéns da zona portuária. Na mesma medida, partes significativas da área poderão ser destinadas a hubs tecnológicos para o desenvolvimento da indústria, criatividade e inovação. Isso permitirá a firmas de Tecnologias da Informação, design, laboratórios de pesquisa e desenvolvimento e instituições de excelência acadêmica mundial lá se instalarem. É bem o caso do que se vem fazendo, com êxito, em Dubai, Doha e Abu Dabi.

O Brasil nunca esteve tão na moda aos olhos de empresas e investidores no mundo todo. Receberemos investimentos maciços - e muita gente - de antena ligada nos efeitos multiplicadores da Copa do Mundo, dos Jogos Olímpicos e de projetos como o trem de alta velocidade. O Rio está sabendo aproveitar essa onda para que os benefícios do Porto Maravilha se estendam além da Cidade Maravilhosa.

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