Brasil vai vistoriar alimentos do Japão

Autor(es): Isabel Fleck
Correio Braziliense - 31/03/2011

Ameaça nuclear
Importações e bagagem passarão por controle de radiatividade nos portos e aeroportos.

A partir de segunda-feira, o governo brasileiro passará a monitorar os alimentos importados do Japão e intensificará a inspeção sobre a bagagem que chega com passageiros vindos do país em voos comerciais. A decisão foi tomada ontem, em reunião no Ministério da Saúde, com representantes do Ministério da Agricultura e da Pesca, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). O objetivo é verificar a quantidade de radiação presente nos alimentos que vêm de áreas próximas à usina de Fukushima 1 (Daiichi), danificada após o terremoto seguido de tsunami, ocorrido há 20 dias. A definição brasileira saiu no mesmo dia em que o Japão lançou um apelo à Organização Mundial do Comércio (OMC) para que a comunidade internacional não imponha restrições “injustificáveis” a seus produtos.

De acordo com a Anvisa, as medidas são apenas de “precaução”, já que o governo considera “quase nulo” o risco de contaminação. Os alimentos vindos das 12 províncias com risco de contaminação terão de entrar no país com uma declaração das autoridades sanitárias japonesas de que estão aptos para consumo. Além disso, passarão por inspeção nos portos e aeroportos. Os produtos das demais regiões japonesas também serão fiscalizados, mas por “amostras aleatórias”.

Nos aeroportos, os esforços serão destinados apenas às bagagens vindas do Japão. Os passageiros não passarão por nenhum tipo de detecção. Para o governo brasileiro, isso é desnecessário tendo em vista que, de mais de 92 mil pessoas analisadas no Japão, menos de 100 registraram índices mais altos de radiação. As autoridades brasileiras também argumentam que, como todos os voos entre Japão e Brasil fazem escala na Europa ou nos EUA, a verificação já terá sido feita. Entre os alimentos japoneses que o país importa estão peixes, algas, alguns tipos de camarão e chás.

Fukushima 2
No Japão, a corrida contra o tempo se intensificou depois que fumaça foi vista saindo da usina de Fukushima 2 (Daini), que até ontem não apresentava anormalidades. Segundo autoridades, o problema foi causado numa parte elétrica do sistema de bombeamento de água, mas não resultaria em vazamento de radiação para o ambiente. Em Fukushima 1, equipes de emergência começarão hoje a revestir o local com uma resina, na tentativa de reduzir o escape de material radioativo. A operadora do complexo, a Tokyo Electric Power (Tepco), considera ainda a opção de usar um navio-tanque para retirar do local grandes volumes de água radioativa.

Para o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, o navio-tanque pode ser uma boa opção no curto prazo. “Com o líquido radioativo na usina, fica difícil chegar às conexões para religar as bombas e garantir a refrigeração a longo prazo”, observa. Ele acredita que a solução da resina — uma tática mais convencional — também pode ajudar.

Enquanto na região afetada a intenção é evitar um desastre humano e ambiental, em Tóquio, o imperador Akihito tenta recuperar sua imagem, após as críticas pela sua ausência após a tragédia. Ontem, ele e a imperatriz Michiko visitaram um alojamento onde estão 300 desabrigados, a maioria vindos de Fukushima. Hoje, ele receberá em Tóquio o presidente francês, Nicolas Sarkozy, primeiro chefe de Estado a visitar o país depois do terremoto.

Desacreditada e desvalorizada
Desde o terremoto seguido de tsunami, há 20 dias, as ações da Tokyo Electric Power (Tepco),que opera a usina nuclear de Fukushima, perderam 75% do valor, em meio a rumores sobre a possível nacionalização da empresa, que é a maior do setor elétrico no Japão e uma das maiores do mundo. Na última terça-feira, a desvalorização foi de 18,67%.Problemas físicos causados aos funcionários, informações equivocadas sobre o acidente e a ausência de seu presidente — que alegou doença — colocaram em dúvida a capacidade da Tepco para lidar com o pior acidente nuclear desde de Chernobyl, em 1986.

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