Meta é combater a inflação

Autor(es): Vicente Nunes
Correio Braziliense - 30/03/2011

Captação de US$ 38,5 bilhões em 2011 está minando os efeitos da política monetária tocada pelo Banco Central.

A decisão do governo de taxar em 6% os empréstimos de até 360 dias tomados por bancos e empresas no exterior tem como objetivo reforçar o combate à inflação, que caminha rapidamente para o teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Depois de vasculharem as operações, técnicos do Ministério da Fazenda e do BC descobriram que várias companhias estavam pegando dinheiro lá fora para especular com seus estoques. Ou seja, como vinham pagando, em média, juros de apenas 3% ao ano, mantinham as mercadorias nos galpões por um período, apostando que as venderiam mais à frente a preços maiores. Além disso, as empresas estavam financiando diretamente o comércio e os consumidores, driblando as restrições de crédito impostas pelo BC para conter a demanda e a carestia que assusta a população.
Entre os bancos, os integrantes da equipe econômica também detectaram movimentos incompatíveis com o aperto da política monetária. De posse de recursos bem mais baratos, as instituições mantiveram abertas as portas para o crédito fácil, sobretudo a famílias já endividadas. Assim, pouco se importavam com a obrigatoriedade de recolherem compulsoriamente mais R$ 61 bilhões aos cofres do BC desde dezembro do ano passado. Na avaliação de técnicos do Palácio do Planalto, ao buscarem, de forma exagerada, recursos fora do país — foram US$ 38,5 bilhões entre 1º de janeiro e 28 de março, 86% a mais do que em igual período do ano passado —, bancos e empresas estavam minando os esforços do governo em direcionar a inflação para o centro da meta, de 4,5%.

Pelas avaliações da equipe de Alexandre Tombini, presidente do BC, com os 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mais a taxa de juros de 3% ao ano cobrada no exterior, bancos e empresas terão de esperar nove meses para começar a ter retorno com os empréstimos, se levada em conta a taxa básica de juros de 11,75% ao ano. “Estamos fechando todas as brechas. Se o mercado não acredita na nossa capacidade de frear movimentos inconsistentes, deve se preparar. Várias outras medidas estão prontas, inclusive para brecar empréstimos de prazos mais longos, se detectarmos exageros”, afirmou um assessor do Planalto, ameaça que foi endossada, com todas as letras, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Tranco à vista
Nas análises internas, o presidente do BC acredita que, com os empréstimos externos mais caros, os bancos vão começar a rever as suas políticas de crédito, tornando mais seletivas as liberações de recursos. Não à toa, a autoridade monetária reviu, de 15% para 13%, a projeção de crescimento para os empréstimos e financiamentos neste ano, estimativa que, se confirmada, será um tranco, uma vez que, nos 12 meses terminados em fevereiro, as operações apontaram incremento de 21%.

Segundo o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, com o freio do IOF, a política monetária ganhará mais força. “A cobrança do imposto vem contribuir para a acomodação do crescimento da economia e para o combate da inflação”, disse, lembrando que o crédito tem sido fundamental para o dinamismo da economia brasileira. “Mas parte da expansão desse crédito vinha sendo sustentada pelas captações externas em forma de empréstimos ou títulos. Portanto, o IOF vem contribuir para reforçar as ações prudenciais que o BC vem adotando”, frisou.

Colaborou Victor Martins


Em quatro dias, US$ 2,3 bilhões
Dados contabilizados pelo Banco Central mostram que, em apenas quatro dias, de 25 a 28 de março, bancos e empresas tomaram S$ 2,3 bilhões em empréstimos no exterior, um sinal de que se anteciparam às ameaças do governo em conter esse tipo de operação. “Com certeza, houve uma corrida em busca de recursos mais baratos lá fora, para driblar qualquer restrição. Mas o importante é que, a partir de agora, botamos uma trava importante nas portas”, disse um técnico do Ministério da Fazenda. Do total de US$ 38,5 bilhões que entraram no país desde o início, 50% têm vencimento em até 360 dias. E mais: US$ 25,6 bilhões foram captados por bancos e US$ 12,9 bilhões, por empresas. “Basta olhar para esses números para se perceber que há algo de errado, que há uma farra de empréstimos no exterior. Isso pode causar sérios problemas se os preços do dólar subirem rapidamente”, acrescentou outro técnico do governo.

farra

86%
Aumento dos empréstimos externos fechados entre 1º de janeiro e 28 de março ante o mesmo período de 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário, muito obrigado pela sua visita!