Voto na ONU pode prejudicar comércio com Irã

Valor Econômico - 25/03/2011

Um certo distanciamento também comercial entre o Brasil e o Irã é admitido em círculos do governo brasileiro depois do voto ontem no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que ajudou a aprovar o envio de um relator para investigar possíveis violações em Teerã. Mas diferentes fontes minimizam o impacto nos negócios com Teerã, até porque o Irã está submetido a sanções do Conselho de Seguranças da ONU e os países podem comercializar pouco com o país.

O grosso das exportações brasileiras para o Irã é carne bovina. Essas exportações alcançaram US$ 802 milhões em 2010. Nos dois primeiros meses deste ano chegaram a US$ 151 milhões, numa alta de 46% em relação ao mesmo período de 2010.

No ano passado, o Brasil exportou US$ 2,1 bilhões em mercadorias para o Irã e importou apenas US$ 123 milhões. O superávit, em favor do comércio brasileiro, é de US$ 1,99 bilhão.

Além da carne bovina, o Brasil exporta milho, soja, carne de aves e açúcar, todos os produtos em quantidades bem pequenas.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne Bovina (Abiec) não identificou dificuldades desde que o governo de Dilma Rousseff sinalizou mudança de atitude na área de direitos humanos com os iranianos.

Problemas que os frigoríficos tiveram para obter financiamento para exportação estariam resolvidas. "Não recebi nenhuma queixa de ordem bancária de exportadores para o Irã, nos últimos 40 dias, e na feira de Dubai os negócios seguiam normalmente", disse Antonio Camardelli, diretor-executivo da Abiec. "Politica e comércio não se misturam", acredita Pedro de Camargo Neto, especialista em comércio exterior.

O governo de Mahmoud Ahmadinejad tentou demover o Brasil de votar a favor de envio de relator da ONU para examinar a situação dos direitos humanos, pedindo na verdade apoio para derrotar a resolução.

A embaixadora brasileira no Conselho de Direitos Humanos da ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, insistiu que o voto foi a favor do sistema de direitos humanos e não contra o Irã. "O Brasil espera que os principais defensores dessa iniciativa apliquem os mesmos padrões para outros casos que surjam de não cooperação com o sistema de direitos humanos da ONU", afirmou em plenário, numa referência à falha do Irã em receber seis diferentes relatores de direitos humanos. "O Brasil acredita que todos os países, sem exceção, têm desafios a superar na área. A presidenta Dilma Rousseff deixou claro, em seu discurso de posse, que acompanhará com atenção os avanços na situação de direitos humanos em todos os lugares, a começar pelo Brasil", afirmou a embaixadora. A posição da presidente, em relação ao Irã, distoa do que foi a política externa de Lula em relação a esse país.

Mais 20 países votaram como o Brasil. Entre os contrários ao envio de um emissário para o Irã estão Cuba e o Equador. "O Brasil espera que o mandato possa contribuir para melhorar a situação dos direitos humanos no Irã e, ao mesmo tempo, pavimentar o terreno para ações coerentes e consistentes quando nos encontrarmos em situações similares", acrescentou Maria Nazareth.

Em entrevista, a embaixadora dos Estados Unidos, Eileen Chamberlain Donahoe, qualificou a posição brasileira de "demonstração de liderança". Afirmou que a presidente Dilma Rousseff "mostrou sua visão sobre esse tema e estamos muito satisfeitos".

A embaixadora Maria Nazareth qualificou de "desrespeito com o Brasil" rumor de que o governo tentou barganhar com os Estados Unidos o voto contra o Irã em troca de apoio ao Conselho de Segurança da ONU, aspiração dos governos anteriores de Luis Inácio Lula da Silva.

"Primeiro, porque o país não vai barganhar direitos humanos, e depois o Brasil tem credenciais suficientes para entrar no Conselho de Segurança, por seu tamanho e peso na economia mundial, entre outros fatores", afirmou Maria Nazareth. No fim da votação na ONU, a embaixadora disse que ninguém veio dizer-lhe se o Brasil estava certo ou errado. "O que ouvi foi comentários de reconhecimento, equilíbrio e coerência sobre a posição brasileira", afirmou.

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