A indústria nacional dá preferência a importar

O Globo - 03/03/2011

A produção industrial de janeiro, divulgou ontem o IBGE, apresentou um crescimento de 0,2% - insuficiente para recuperar a queda dos dois meses anteriores (-0,8%, em novembro; -0,1%, em dezembro). Estamos diante de uma situação preocupante, na medida em que o consumo doméstico cresce mais do que a produção industrial e essa demanda vai sendo satisfeita pelo aumento das importações.

Neste início de ano, caberia pois analisar as razões que levam a indústria a ficar atrás de uma demanda interna que continua robusta.

A tentação é atribuir o fato apenas a uma taxa cambial excessivamente valorizada, que representa um convite para substituir bens produzidos no País por bens importados, em razão de uma opção de maior rentabilidade, pois os componentes importados são mais baratos.

Quando se examinam os dados da produção industrial em janeiro, verifica-se claramente essa opção: a única categoria de bens que acusa queda de 0,4% é a de bens intermediários, enquanto os bens de consumo duráveis apresentam crescimento de 6,0%. Nos últimos 12 meses, os bens intermediários aumentaram apenas 9,9%, contra 20,41% dos bens de capital e 8,32% dos bens de consumo duráveis, excluídos os veículos automotores para passageiros e equipamentos de transporte não industrial. Os insumos industriais básicos aumentaram sua produção em 19,0 %, e os elaborados, em 9,3%.

O presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos, mostra a necessidade do setor de apresentar um aumento dos seus gastos na área da inovação, o que nos permitiria, de um lado, reduzir nossos custos e, de outro, aumentar nossa capacidade de concorrência com produtos estrangeiros.

A melhoria das condições econômicas do País explica em grande parte a valorização da moeda nacional, e teremos de conviver com isso ainda muito tempo, como outros países emergentes, mas que, graças às inovações da sua indústria, reduziram os impactos da valorização de suas moedas.

Nossa indústria dá a impressão de que está se acostumando a viver de itens importados - acomodação que é um perigo, pois destruidora de empresas. Cabe reagir e levar em conta que os resultados do comércio exterior, em que os produtos básicos na exportação ultrapassaram o valor das exportações de industrializados, refletem um quadro provisório. Uma alta prioridade deve ser dada, dentro e fora das empresas, à pesquisa tecnológica.

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