BC atua e segura dólar acima de R$ 1,70

Autor(es): Por Eduardo Campos | De São Paulo
Valor Econômico - 24/02/2012

Está claro que o Banco Central (BC) vai defender a linha de R$ 1,70 no câmbio. Qualquer dúvida que existia ficou para trás depois de ontem, quando a autoridade monetária fez duas intervenções no mercado.

A primeira, foi um leilão de swap cambial reverso, operação que equivale à compra de dólares no mercado futuro e estava na gaveta desde o fim de agosto do ano passado. A segunda foi mais uma compra à vista.

Embora de grande volume, o leilão de swap reverso movimentou apenas 3,5 mil contratos, ou US$ 174,7 milhões, dos até 80 mil swaps ofertados em dois vencimentos. A compra à vista teve taxa de corte de R$ 1,7112.

Segundo o economista para América Latina do Standard Chartered, Ítalo Lombardi, a atuação do BC está obviamente ligada à queda do dólar para baixo da linha de R$ 1,70 no começo do pregão de ontem. Na mínima, a moeda foi a R$ 1,698.

"Esse é um nível psicológico forte. Se ele é furado, o mercado começa a aumentar as apostas sobre a possibilidade de o câmbio testar preços ainda mais baixos. E é isso que o Banco Central tenta conter com as atuações", diz.

Para o economista, o BC sabe que é praticamente impossível segurar um nível de taxa de câmbio. Quando há fluxo e o quadro internacional é favorável, a valorização é inevitável.

"O que a autoridade monetária faz é tentar suavizar esse movimento de baixa e postergar a quebra desses níveis que levam o mercado a apostar ainda mais na alta do real", explica.

Lombardi aponta que uma apreciação muito rápida do câmbio também carrega o risco de uma depreciação muito rápida, o que soma ruído à condução da política monetária.

Além desse fator, há, também, a parte do governo e de seu discurso, pois o real forte prejudica as exportações e tira competitividade da indústria brasileira. "Mas gostamos de acreditar que o BC atua sem olhar para essas questões", diz.

Para um gestor, o BC vai lutar para segurar a linha de R$ 1,70 até quando aguentar. Depois terá de seguir lutando, mas em linhas de preço mais baixas. Algo já observado em outros momentos de forte valorização do real.

Outro resultado dessa "briga" direta do BC é a perda de volatilidade do mercado.

Como o real não sobe junto com seus pares de outros países, também não cai de preço com a mesma intensidade. O que acaba acontecendo é uma perda de volatilidade do câmbio. Algo que já foi observado e vinha sendo visto desde a primeira atuação do BC no câmbio no dia 3 de fevereiro.

As duas intervenções de ontem mostraram resultado. O dólar subiu no mercado local enquanto caiu no restante do mundo. De fato, o real foi a moeda que mais perdeu para o dólar, ontem, dentro de uma cesta com moedas de países emergentes e desenvolvidos

No mercado à vista, o dólar subiu 0,23%, para R$ 1,711. Mas ainda tem queda de 8,45% no ano.

No mercado futuro, a dólar para março ganhava 0,43%, a R$ 1,7165, antes do ajuste final.

No câmbio externo, o DXY, que mede o comportamento do dólar ante uma cesta de moedas perdeu 0,74%, a 78,64 pontos. Enquanto o euro chamou atenção ao registrar alta de 0,89%, para US$ 1,336, maior preço desde dezembro do ano passado.

No mercado de juros futuros, os contratos de prazos mais longos tiveram firme valorização. Mas, mais uma vez, o baixo volume do dia não permitiu grandes conclusões. Os vencimentos curtos não se mexeram muito e continuam sugerindo Selic ao redor de 9% ao ano.

Segundo o gestor da Vetorial Asset, Sérgio Machado, essa puxada nos contratos longos tem forte viés técnico. Essas foram as taxas que mais caíram recentemente e mesmo "comprando" a estratégia do BC, os prêmios de risco estavam muito deprimidos.

Os vértices longos da curva de juros passaram por um período de firme baixa conforme se difundiu a ideia de que o BC poderia lançar mão de medidas macroprudenciais para fazer frente a possíveis problemas com a inflação ou descompasso entre oferta e demanda. Dessa forma, a Selic poderia cair e permanecer baixa por mais tempo.

O lado técnico ganha algum respaldo no aspecto fundamental, já que alguns indicadores econômicos sugerem que a atividade local não estaria tão fraca quanto se antecipava.

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