Para países da OMC, só um milagre salva Doha

Valor Econômico - 25/03/2011

Nova crise atingiu a combalida Rodada Doha, depois de dez anos de negociações Os principais países foram ontem ao diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, dar o recado: só um milagre permitirá um acordo global de liberalização agrícola, industrial e de serviços este ano, ou em futuro próximo.

"A situação é grave, precisamos refletir, fazer consultas internas para decidir o que fazer daqui para frente", reagiu o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, depois de se encontrar com Lamy, mostrando-se visivelmente frustrado.

Desde terça-feira, os principais negociadores começaram a tomar mais tempo discutindo cenários de saída da negociação global, sem causar danos consideráveis para a OMC.

Divergências gigantescas entre os países foram explicitadas de vez, depois de negociações bilaterais dos EUA com a China e a Índia, na semana passada. Washington exigiu tarifa zero na importação de centenas de produtos em setores estratégicos, através das chamadas negociações setoriais. No caso do Brasil, isso significaria abolir tarifas de 3.200 produtos a mais do que previsto inicialmente, em setores como químicos, equipamentos eletrônicos, hospitalares e florestais, o que foi considerado um absurdo.

Os americanos reclamaram que, com o atual pacote na mesa, não conseguem vender um acordo de Doha no Congresso. E precisavam de concessões adicionais nos mercados emergentes para seus produtos industriais, agrícolas e serviços, sem porém dar a contrapartida. "A situação chegou a tal ponto que um país que está em posição um acha que só dá para ir até dez, e o que está em posição cem só aceita ir até 90. Aí o fosso é enorme", explicou um negociador.

Na terça-feira, o Canadá propôs quatro cenários para Doha: continuar tentando negociar, mudar de formato, abandonar a rodada de maneira desorganizada ou tentar um desfecho negativo coordenado, para evitar mais problemas para o sistema multilateral de comércio. Ontem, foi a vez de o Brasil coordenar reunião dos principais países. O que houve foi um encontro confuso, complicado, na qual a conclusão óbvia foi de que era preciso dar um tempo na negociação.

Nenhum país, porém, está formalmente inclinado a dizer que é impossível concluir Doha. A China não quer ser acusada de fazer a negociação naufragar. Os EUA se refugiam em demandas exageradas, para alegar que os outros é que não fazem concessões. Por sua vez, a União Europeia e o Japão, que estão entre os que alegam não ter mais nada a oferecer na negociação, são os que continuam insistindo na possibilidade de salvar a rodada.

O Brasil, de seu lado, diz ter apresentado as ideias possíveis para retomar a negociação e foram todas rejeitadas. O enterro da Rodada Doha não será decretado, porque uma rodada nunca morre oficialmente, até que outra negociação tome seu lugar.

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